segunda-feira, 7 de fevereiro de 2022

...“Celebrarte” Marcelo Cunha, mais um sonho realizado!...

     Mergulhar no universo artístico em 1994 determinou uma mudança como nunca imaginei. Aos 25 anos de idade estava no quarto ano da tetraplegia, consequência de um mergulho em uma cachoeira. Sem poder realizar os sonhos que dependiam de liberdade física, questionava intensamente diante das limitações físicas. E foi nesse contexto que a pintura com a boca, mais que um presente, surgiu como uma possibilidade de ter a autonomia de planejar a vida.

A cada quadro concluído e posicionado nas paredes tornava menor o que era o meu ateliê, meu escritório, meu quarto e meu mundo. Assim compartilhava a minha realização com as pessoas que me visitavam e vibravam ao apreciar as pinturas e o quanto me sentia feliz por estar em atividade. Penso que ali surgiu o desejo de ter um ateliê para expor os quadros continuamente ao invés de guarda-los em prateleiras pela falta de espaço.

Ao longo de dez anos já havia produzido obras que foram expostas no Brasil e em outros países. Dessa forma realizava algumas vendas interessantes, contudo percebendo na prática que por mais que me dedicasse, não vislumbrava que um dia viveria de arte. Porém, em 2004 ingressei como bolsista na APBP (Associação dos Pintores com a Boca e os Pés), tendo enfim a almejada tranquilidade.

A produção das minhas obras tornou-se mais intensa e diversas delas foram selecionadas e reproduzidas em cartões e calendários, vendidos mais de 70 países. Já me sentia em crescente realização artística, e como se não bastasse, fui promovido para Membro Associado da APBP em 2011. A partir de então, conquistei um recanto na Zona Oeste do Rio de Janeiro, um local de rica vegetação nativa e belezas naturais, onde fora construído uma casa ampla e acessível para chegar ao tão sonhado ateliê. Nele tinha grande a tranquilidade e uma visão inspiradora.

Finalizado em novembro de 2021, selecionei uma mostra com 30 obras que fazem alusão aos anos de deficiência. Ao conferir os detalhes e imaginar a presença de pessoas tão especiais de minha trajetória tive a inspiração para a criação do tema “Celebrarte”. Mais que um tema, era a palavra que me unia a realidade de todos os artistas, uma vez que tivemos a vida mudada através da arte, podendo ali celebrar dignamente um futuro de realizações. Esse por certo era um privilégio, sobretudo pela qualidade de vida que contribuiu para que sobrevivêssemos à pandemia e todas as expectativas.

Enfim, foi maravilhoso vê-los com seus familiares, amigos e acompanhantes. Estavam visivelmente emocionados ao som das quatro estações de Vivaldi, executadas em violinos. Nesse clima circularam no ateliê e por toda a casa, quando nos juntamos para a troca de presentes e momentos tão marcantes preparados por minhas famílias e outras dezenas de pessoas que contribuíram para a concretização de mais um sonho.

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