sábado, 7 de dezembro de 2024

...Brilho fugaz, despedida à Matheus Correia ...

Às vezes, encontramos pessoas que nos motivam e inspiram a continuar nossas lutas. Tudo começou com uma ligação, na qual conheci um jovem extremamente empolgado querendo jogar videogame. Ele me fez inúmeras perguntas sobre como eu conseguia competir e se era muito difícil aprender a utilizar o controle de boca para jogos. Falamos algumas poucas vezes nesse momento, mas dava para ver o quanto esse jovem queria poder realizar esse sonho. Tempos depois, ouvindo minhas conversas, uma querida amiga pôde ouvir além do que suas orelhas captavam. Segundo relatos dela, ela podia ouvir um clamor que pedia por ajuda. Janaína Casimiro foi ao encontro de Matheus Correia em sua humilde casa, onde pôde perceber a fragilidade de uma vida que necessitava de cuidados e atenção. Movendo céus e terra, fazendo pessoas conhecerem sua história de vitórias e dor, essa moça continuou a lutar. Mas, vendo que seu sacrifício em ajudá-lo tardava a curar suas feridas, decidiu levar esse jovem para sua própria casa. Mais próximos, agora para falar e trocar experiências, fui conhecendo esse grande amigo mais a fundo. Como qualquer pessoa que tem suas limitações impostas por um destino cruel, Matheus abrigava em si belos sonhos: ter sua família e sua liberdade. Um sonho de igualdade pelo qual decidiu lutar até o fim.

Nossas reuniões, ora pessoalmente, ora auxiliadas pela internet, eram regadas de bom humor e, porque não dizer, tretas nos jogos eletrônicos. Amigos puderam proporcionar um controle de boca que ele tanto queria e um PlayStation, que o permitia se conectar a mim e ao Luciano, amigo em comum que nos apresentou. Entre zueiras e uma risada marcante, que às vezes parecia até um filhote de foca, Matheus demonstrava sua alegria e esperança de poder acompanhar seus amigos em suas tarefas de pintura e arte, nas quais ele almejava mergulhar a cada dia. 


As vitórias começaram a surgir: melhoras em seus ferimentos e a cirurgia para tentar se curar da osteomielite. Nada foi simples, e, por muitas vezes, víamos a tristeza em seu olhar. Mas unindo suas forças às de Janaína, de seu marido Leandro, e de seus amigos, suas mãos puderam alcançar o que antes era impossível.

Algum tempo depois, Matheus soube que sua admissão na APBP finalmente se tornara real. Euforia, alegria, gritos e gargalhadas — enfim, ele poderia lutar pelos seus sonhos; enfim, se assim quisesse, ele poderia deixar seu passado para trás. Pintando quadros e participando de exposições, através das palavras da professora Rita, que dizia para mim o quão talentoso ele era, podíamos perceber a luz que aumentava e tentava cada vez mais se focar, aprender e ser quem era. Mas, como todo brilho fugaz, Matheus teve grandes desafios: saudades de entes queridos, solidão, o próprio sentimento de vazio e insatisfação por estar tetraplégico — tudo isso o dilacerava. Inúmeras vezes conversamos, e, nessas trocas de figurinhas, tanto o Luciano quanto o Nuno e, claro, eu, com Matheus, compartilhávamos nossas experiências e confessávamos aquela dor indescritível, quase como um terror transformado em água que escorria pelos dedos. Em pouco tempo, víamos a evolução na arte e, com alguma dificuldade, nos pensamentos de Matheus. Afinal, superar o que chamamos de impotência, principalmente quando esse sentimento surge pelas próprias forças exauridas em uma luta infindável, não é para qualquer um. Mesmo assim, seu brilho começava a iluminar as pessoas ao seu redor. Agora, com seu trabalho, amigos e a família que o adotara com carinho e amor, ele podia finalmente não apenas gargalhar como um filhote de foca, mas também dar sorrisos sinceros.



Entre a gratidão e a dor, Matheus teve uma trajetória muito difícil entre nós, e, para piorar, a osteomielite havia retornado. Um corre-corre para a nova cirurgia, um corre-corre para conseguir seu tratamento em um homecare, um corre-corre que terminou com Matheus contraindo um novo vírus no hospital, não resistindo e falecendo neste ano de 2024.



Sua presença, suas lembranças e garra jamais sairão dos nossos corações. E, como uma estrela fugaz, ele iluminou tantas vidas que é difícil suportar. Com a potência dessa estrela, pôde ascender aos braços do nosso Deus, sobre quem tanto conversávamos. Em louvores, Matheus dizia como era sublime o amor divino e como era gloriosa a experiência de ser um guerreiro além das forças humanas. Para sempre, Matheus ficará em nossos corações e, um dia, tenho certeza de que nos encontraremos novamente.




E para encerrar, palavras de um coração que aguarda o momento de um reencontro. Fiquem com as palavras de Janaína Casimiro.

“Em meio a muitas lágrimas, saudade eterna que nunca irá acabar em meu coração. Ando nas ruas, em casa, igreja, tudo me traz meu filho na lembrança. Te amo muito filho, com certeza um dia poderei te abraçar, beijar e dizer o quanto você me faz falta.”

Nenhum comentário:

...