Nossas reuniões, ora pessoalmente, ora auxiliadas pela internet, eram regadas de bom humor e, porque não dizer, tretas nos jogos eletrônicos. Amigos puderam proporcionar um controle de boca que ele tanto queria e um PlayStation, que o permitia se conectar a mim e ao Luciano, amigo em comum que nos apresentou. Entre zueiras e uma risada marcante, que às vezes parecia até um filhote de foca, Matheus demonstrava sua alegria e esperança de poder acompanhar seus amigos em suas tarefas de pintura e arte, nas quais ele almejava mergulhar a cada dia.
As vitórias começaram a surgir: melhoras em seus ferimentos e a cirurgia para tentar se curar da osteomielite. Nada foi simples, e, por muitas vezes, víamos a tristeza em seu olhar. Mas unindo suas forças às de Janaína, de seu marido Leandro, e de seus amigos, suas mãos puderam alcançar o que antes era impossível.
Algum tempo depois, Matheus soube que sua admissão na APBP finalmente se tornara real. Euforia, alegria, gritos e gargalhadas — enfim, ele poderia lutar pelos seus sonhos; enfim, se assim quisesse, ele poderia deixar seu passado para trás. Pintando quadros e participando de exposições, através das palavras da professora Rita, que dizia para mim o quão talentoso ele era, podíamos perceber a luz que aumentava e tentava cada vez mais se focar, aprender e ser quem era. Mas, como todo brilho fugaz, Matheus teve grandes desafios: saudades de entes queridos, solidão, o próprio sentimento de vazio e insatisfação por estar tetraplégico — tudo isso o dilacerava. Inúmeras vezes conversamos, e, nessas trocas de figurinhas, tanto o Luciano quanto o Nuno e, claro, eu, com Matheus, compartilhávamos nossas experiências e confessávamos aquela dor indescritível, quase como um terror transformado em água que escorria pelos dedos. Em pouco tempo, víamos a evolução na arte e, com alguma dificuldade, nos pensamentos de Matheus. Afinal, superar o que chamamos de impotência, principalmente quando esse sentimento surge pelas próprias forças exauridas em uma luta infindável, não é para qualquer um. Mesmo assim, seu brilho começava a iluminar as pessoas ao seu redor. Agora, com seu trabalho, amigos e a família que o adotara com carinho e amor, ele podia finalmente não apenas gargalhar como um filhote de foca, mas também dar sorrisos sinceros.
Entre a gratidão e a dor, Matheus teve uma trajetória muito difícil entre nós, e, para piorar, a osteomielite havia retornado. Um corre-corre para a nova cirurgia, um corre-corre para conseguir seu tratamento em um homecare, um corre-corre que terminou com Matheus contraindo um novo vírus no hospital, não resistindo e falecendo neste ano de 2024.
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