As cores de uma manhã ensolarada se perderam, os sons dos risos e cantos dos pássaros há muito tornaram-se uma marcha fúnebre, que ao longe parece fazer a introdução do meu desespero.
Sinto frio e fome, não consigo mais lembrar de onde vim, perdido em uma noite que dura, hiperdura por mais tempo que posso contar, meus olhos cheios de lágrimas e inquietos visam sombras por toda parte.
A terra está úmida, mas eu não andava calçado, na realidade nem recordo-me de um dia ter dado laços em botas ou algo assim.
Continuo a caminhar, soluçando e praguejando, não vejo a frente e nem o que passou, apenas continuo a caminhar.
Comigo apenas o som dos corvos, que por mais que assustem, me dão a segurança de não estar sozinho. Continuo a temer, viver ou sobreviver.
Ao longe vejo uma casa, uma pequena chopana de madeiras podres, sem janelas, com sua porta apenas escorada, e sem mais nem menos, um grito gela a minha alma.
Insistentemente olho, insistentemente escuto, mas não sei, apenas desconfio de minha própria sombra e continuo a caminhar perdido e sem pedir ajuda.
Aqueles olhos, brilhando na escuridão, parece estar com fome, parece estar sedento.
Um rosto que flutua, trajando trapos negros mais escuros que o escuro, o rosto que flutua e me olha com olhos incandescentes. Insisto em correr, temendo, querendo sobreviver.
Mas nesta noite as bruxas voam, e os morcegos apenas buscam meu sangue.
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